Intervenções Temporárias no Rio de Janeiro

INSURGÊNCIAS: COMO FOI?

02 de outubro de 2023

O INSURGÊNCIAS: Experiências em Espaços Públicos ocorreu entre os dias 12 e 17 de setembro de 2023, quando a cidade do Rio de Janeiro foi sede de diversos eventos, atividades, palestras e passeios.

A celebração começou na terça-feira (12/09), com as TROCAS na sede do IAB-RJ, onde uma programação composta por 11 oficinas aconteceu ao longo de todo o dia, dinamizando o edifício nos dois turnos.

Durante a manhã, aconteceram as seguintes oficinas: Cocriação de Diretrizes para Territórios de Interesse Público (TransLAB.URB); Oficina de bicicleta de bambu (MoBoo/LabIT-PROURB/FAU/UFRJ); Guía de intervenciones en espacios públicos (CAF + OCUPA TU CALLE); LAPIS, Lugares Amigables para la Primera Infancia (Fundación Placemaking México); Urban Sketchers al Barrio! (Concreta Gestión Urbana) e Jogar para transformar a cidade – Oficina do Jogo AtivaCidade (A Cidade Precisa de Você).

Na parte da tarde foram oferecidas as oficinas: Ações e ferramentas para promover a equidade urbana (International Society for Urban Health); Oficina de Capacitação Metodológica em Avaliação e Desenho de Espaços Públicos (ONU-Habitat); ¡La ciudad es nuestra! (Fundación BiciActiva); Proximity of Care_Oficina de projeto urbano e primeira infância (Estúdio+1) e Exorcismos Urbanos (TransLAB.URB).

As oficinas contaram com apresentações rápidas, debates e atividades participativas, algumas das quais ocorreram não apenas nas instalações do IAB-RJ, mas também nos espaços públicos de alguns bairros do Rio de Janeiro, como Laranjeiras, Flamengo e Santa Teresa. 

À noite, para encerrar o primeiro dia, demos início às CELEBRAÇÕES no Portinho Mercado Local, localizado na Zona Portuária do Rio. Neste encontro, celebramos com música, comes e bebes, dando início a uma semana rica em aprendizado e experiências.

No dia seguinte, quarta-feira (13/09), foram oferecidas uma série de DISCUSSÕES na Casa Firjan, com programação composta por mesas temáticas e apresentações de experiências insurgentes ao longo de cada dia.

No turno da manhã aconteceu a mesa de abertura, com a presença de Julia Zardo (Casa Firjan), Noemia Barradas (CAU-RJ), Adriana Sansão (PROURB/FAU-UFRJ) e Lucía Nogales (Ocupa Tu Calle); e a mesa temática Cuidados e Primeira Infância, composta por Isabella Gregory (CECIP), Thelma Vilas Boas (Coletivo Lanchonete-Lanchonete), José Gómez (Espacio Lúdico) e Luciana Lima (La Ciudad Que Resiste), com moderação de Marcela Abla (IAB-RJ). 

Após a apresentação de Elizabeth Sanchez (Ocupa Tu Calle) da publicação “Cidades para las infancias” (Urban95 e Ocupa Tu Calle), foram apresentadas as Experiências Insurgentes voltadas à temática de Cuidados e Primeira Infância, com ações de profissionais e ativistas de diferentes países da América Latina.

Durante a tarde, após a apresentação de Angie Palacios (CAF), “Ellas se mueven seguras”, o foco foram as Experiências Insurgentes relacionadas à mobilidade e aos bairros, com a apresentação de ações concretas e transformadoras em diferentes cidades e países da região. 

Em seguida aconteceu a mesa temática Mobilidade, com a participação de Danielle Hoppe (ITDP Brasil), Ruth Costa (Bike Anjo), Carolina Huffmann (Ciudades Comunes/Urbanismo Vivo) e Leticia Sabino (Instituto Caminhabilidade), com moderação de Eveline Trevisan (Prefeitura de Belo Horizonte); além da mesa temática Bairros, composta por Lucía Nogales (Ocupa tu Barrio), Juliana Lisboa (Cidade Quintal), Fernando Zulu (Galeria Providência) e Lucas Nassar (Laboratório da Cidade), com a moderação de Maria Cecilia Pereira Tavares (UFS).

O encerramento do dia foi em clima de CELEBRAÇÃO na praia do Leme, com pé na areia, cangas, caipirinhas e animação. Foi um tempo para recarregar as energias para o dia seguinte.

Também na Casa Firjan, na quinta-feira (14/09), deu-se continuidade à programação composta por mesas temáticas e apresentações de experiências insurgentes ao longo de cada dia.

A manhã teve início com a mesa Redes, com a presença de Mariana Alegre (Ocupa Tu Calle), Guillermo Bernal (PlacemakingX), Carolina Carrasco (Espacio Lúdico) e Carolina Huffmann (Ciudades Comunes / Urbanismo Vivo), com moderação de Leonardo Brawl (TransLAB.URB). Em seguida, a mesa Crise Ambiental foi composta por Bárbara Barros (C40 Cities), Tainá de Paula (Secretaria do Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro), Paulo Horta (UFSC) e Camila Wirsching (Proyecta Memoria), com moderação de Beatriz Carneiro (Museu do Amanhã).

Após a apresentação de Adriana Sansão (PROURB-FAU/UFRJ), “Universidade, ação e ativismo”, a sessão de Experiências Insurgentes teve como foco os bairros e a crise ambiental, com ações inovadoras de distintos profissionais e ativistas da América Latina.

À tarde, após a exposição de Giselle Sebag (ISUH), “The International Society for Urban Health”, o foco das Experiências Insurgentes foi sobre bairros e governança, com apresentações de ações concretas e inovadoras em diferentes contextos da região.

Em seguida, a mesa temática Governança teve a presença de Ana Velásquez Paredes (Municipalidad de Valdivia), Ernesto Figueroa (Laboratorio de Innovación Pública de Neuquén) e Karina Tollara (Fundação Bernard Van Leer), com moderação de Carolina Tarrio (Movimento Boa Praça). As atividades se encerraram com a mesa Pacto para os espaços públicos, com a participação de Mariana Alegre (Ocupa Tu Calle), Emil Rodriguez Garabot (CAF), José Chong (ONU-Habitat), Maria Fernanda Pineda (Fundación Avina) e Sindy González (Fundación FEMSA).

Foram dois dias memoráveis em um espaço espetacular e acolhedor que vai deixar muitas saudades!

Já na sexta-feira (15/09) o INSURGÊNCIAS foi marcado por ATIVAÇÕES, DISCUSSÕES e CELEBRAÇÕES, com a realização de rolés pela cidade, debates sobre os 5 eixos do evento, reflexões sobre o futuro, apresentação de Experiências Insurgentes Especiais e pela festa de encerramento na Fábrica Bhering.

Pela manhã o público participou de ATIVAÇÕES em que tiveram a oportunidade de conhecer experiências de base cidadã e comunitária no Rio de Janeiro. 

  • Rolé 1 – Boemia Carioca: Foi um exercício coletivo sobre compartilhar, fabular, sonhar, desejar e transgredir a cidade. Uma deriva insurgencional que começou na praia da Glória, hoje Praça Paris, e seguiu desaguando por caminhos da memória e do esquecimento do Rio. Atravessados por tigres, pantera, Madame Satã, Pixinguinha, Asdrúbal, Selarón, Laurinda Santos Lobo, Villa Lobos, Glória Maria e tantos outros, cada participante pode tecer um pequeno fragmento do palimpsesto da cidade, constituindo-se intimamente como parte de sua mitologia.
  • Rolé 2 – Circuito de Herança Africana: Com o propósito de fortalecer a educação patrimonial de seus participantes, o circuito buscou promover maior acesso sobre a história da escravidão e da comunidade afro-brasileira, que resiste aos sucessivos apagamentos na região da Pequena África, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Mais do que monumentos, como o Cais do Valongo e a Pedra do Sal, a Pequena África existe e resiste a partir do patrimônio cultural imaterial gerado pela comunidade de afro-brasileiros que habitam seu território. Esta comunidade leva adiante a tradição do samba, das religiões de matriz africana, da gastronomia, do artesanato e outras manifestações culturais e populares ligadas à diáspora africana.
  • Rolé 3 – Vale Encantado Turismo Sustentável: Com o objetivo de promover aprendizados e experiências que integram história, cultura e gastronomia natural com foco em sustentabilidade, o circuito sustentável contou com uma visita guiada pela comunidade, apresentando a sua história e suas origens, passando pelo mirante com vista para a orla da Barra da Tijuca, pelas antigas estradas de extração de granito Tijuca, até o parquinho com uma vista deslumbrante. Para conhecer melhor o projeto, foram realizadas visitas ao biossistema e à estação de tratamento de esgoto da comunidade. Na cooperativa foi possível ver como funciona o biodigestor que gera gás através dos alimentos e o biofertilizante. O circuito foi finalizado com um almoço preparado pelas cozinheiras da comunidade com ingredientes locais.
  • Rolé 8 – LAPIS (Lugares Amigáveis para a Primeira Infância): A ativação da Aldeia Marak’anà teve participação dos moradores do lugar, seus familiares, escolas da rede municipal, vizinhas e apoiadores da causa indígena, além de representantes da Fundación Placemaking México, Fundación Femsa e da UERJ e UFRJ. Um número grande de pessoas puderam participar de atividades no local do projeto da equipe brasileira, envolvendo oficinas de plantio, pinturas corporais e de objetos, contação de histórias, além de um momento significativo que foi de cantos indígenas em uma roda de maracá. Em seguida, houve um momento de compartilhamento dos projetos LAPIS LATAM 2023 através da exposição dos posters e das experiências dos participantes do Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru.

À tarde deu-se continuidade às DISCUSSÕES no Museu do Amanhã. A abertura do evento ocorreu com a Mesa Transversalidades, que teve a participação de Leticia Fonti (Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro), Claudia Vidigal (Bernard van Leer Foundation), Pilar Silva (Programa Quiero Mi Barrio – Ministerio de Vivienda y Urbanismo de Chile) e Ricardo Cardim (Cardim Paisagismo), com moderação de Adriana Sansão (PROURB-FAU/UFRJ), buscando entrelaçar os eixos tratados nos dias anteriores do evento.

Posteriormente, após a pré-apresentação de Sindy Gonzalez (Fundación FEMSA), seguiu-se a sessão das Experiências Insurgentes Especiais, apresentadas por Andrea Loyola, Noelia Botana, Gabrielle Rocha, Camila Lopes e Isadora Simon. 

Encerrando o evento no Museu do Amanhã, na Mesa Futuros assistiu-se ao debate de Washington Fajardo com Adelaide Oliveira, que, por meio de suas experiências no Rio de Janeiro e em Belém, refletiram sobre participação, centros urbanos e possibilidades para as cidades. 

A CELEBRAÇÃO final ocorreu na Fábrica Bhering, proporcionando o encontro da comunidade latino-americana ao som de clássicos do nosso continente. Foi um memorável dia de cultura, ativismo e integração!

No quinto e último dia, sábado (16/09), o evento foi marcado por ATIVAÇÕES. Com rolés e vagas vivas, encerrou-se o nosso encontro.

Pela manhã o público participou de ATIVAÇÕES em que tiveram a oportunidade de conhecer experiências de base cidadã e comunitária no Rio de Janeiro, distribuídas em 3 rolés:

  • Rolé 5: Rocinha – A maior favela do Brasil: O rolé na Rocinha foi realizado por Pablo Vileo, guia local e membro do projeto sociocultural “Acorda Capoeira”. Iniciando o encontro na Estação São Conrado, o grupo dirigiu-se com auxílio de mototáxis até o Mirante do Laboriaux, onde os participantes puderam observar a paisagem ao redor sob uma nova perspectiva. Em seguida, o grupo teve a oportunidade de assistir uma apresentação feita pelas crianças assistidas pelo projeto Acorda Capoeira. No Parque Ecológico da Rocinha, o grupo também debateu questões envolvendo o cotidiano do parque e o contexto social da Rocinha. O rolé foi finalizado no Pavilhão Maxwell Alexandre, que leva arte periférica fora do circuito oficial de arte contemporânea.
  • Rolé 6: Santa Marta – Uma favela panorâmica: O rolé na Favela Santa Marta foi realizado por Sheila Souza, fundadora do projeto “Brazilidade”, uma empresa de turismo de base comunitária que busca promover a integração da cidade através do reforço da identidade e da história da favela. Iniciando o encontro na Rua São Clemente, o grupo embarcou no Plano Inclinado, caminhou pelos becos e vielas do Santa Marta, conheceu o Espaço Michael Jackson e até comprou lembrancinhas. De modo muito respeitoso e consciente, a guia local apresentou o contexto social e cultural da favela carioca, contando sobre o lugar em que cresceu e as diferentes realidades da região, trazendo uma nova reflexão sobre outras vivências da Zona Sul do Rio de Janeiro.
  • Rolé 7: Providência – A primeira favela do Brasil: O rolé no Morro da Providência foi realizado por Cosme Felippsen, criador do “Rolé dos Favelados”, e passou por pontos importantes como o Instituto Pretos Novos e o Moinho Fluminense, percorrendo por ruínas, capelas, comércios e residências que retratam o início da ocupação do morro, sendo um espaço de transição que gera questionamentos sobre o ser ou não favela e o significado atribuído ao termo. Andando entre vielas, os participantes puderam se deparar com grande recepção dos moradores e com a descoberta de uma nova paisagem, com pontos de vistas e perspectivas que mudavam a cada passo, observadas também no mirante do teleférico da Providência. Em frente a um barraco histórico, o guia local fez uma apresentação com pandeiro contando um pouco da luta dos moradores e da vida no morro.

Por fim, os rolés finalizaram nas Vagas Vivas, no bairro da Gamboa, ativações do espaço público por meio da conversão de vagas de carro em áreas de lazer.

A primeira delas, de caráter efêmero, foi a ERVaga, uma intervenção urbana de apropriação do espaço de uma vaga de carro na rua Pedro Ernesto, Gamboa, para proporcionar um espaço público para a coletividade. O evento mostrou como uma simples ocupação de um estacionamento pode gerar impacto no bem-estar do pedestre a partir da composição de poucos elementos, como tijolos de concreto, ripas de madeira, lonas, almofadas e plantas. A cooperação entre a Providência Agroecológica e LabIT, com participação do ofereceu aos pedestres chás revigorantes acompanhados de relaxantes escalda-pés, para o merecido descanso após uma semana intensa de atividades. 

Paralelamente na Praça da Harmonia, Gamboa, a parceira entre o Impacto das Cores e a transLAB.URB hackeou mais um espaço útil ao ocupar uma vaga de estacionamento oblíquo à calçada da praça. A ação proporcionou um ponto de apoio para as atividades realizadas na praça, como a quadra poliesportiva e a academia ao ar livre, quando crianças puderam participar efetivamente das oficinas e do lanche da tarde. Para a composição do espaço foi criado um gramado, vegetação, além das peças de mobiliário projetadas e executadas pela equipe, na Fundação Darcy Vargas. A estratégia procurou mostrar uma outra possibilidade de espaço público, permeável e menos árido, contrapondo-se ao existente em áreas consolidadas.

Já no Morro da Providência, a parceria entre a Galeria Providência e Laboratório da Cidade transformou um local hostil em um espaço urbano de interação social, em prol do bem-estar da comunidade. Na intervenção gerada na rua Bento Ribeiro, que durou uma tarde, foram utilizados pallets na construção do espaço, onde crianças se envolveram em atividades de recreação.

Da parte do PROURB-FAU/UFRJ, Ocupa Tu Calle e Rede Placemaking Brasil, agradecemos a todas e todos os 468 participantes pelo engajamento ao longo da semana do evento.

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